PSICOGRAFIA DE UM ATEU SUICIDA

20/07/2013 07:49

 

M. J.-B. D… era um homem instruído, mas em extremo saturado de ideias materialistas, não acreditando em Deus nem na existência da alma. A pedido de um parente, foi evocado dois anos depois de desencarnado, na Sociedade Espírita de Paris.

1. — Evocação.— R. Sofro. Sou um réprobo.

2. Fomos levados a evocar-vos em nome de parentes que, como tais, desejam conhecer da vossa sorte. Podereis dizer-nos se esta nossa evocação vos é penosa ou agradável?

— R. Penosa.

3. A vossa morte foi voluntária?

— R. Sim.

O Espírito escreve com extrema dificuldade. A letra é grossa, irregular, convulsa e quase ininteligível. Ao terminar a escrita encoleriza-se, quebra o lápis e rasga o papel.

4. Tende calma, que nós todos pediremos a Deus por vós.

— R. Sou forçado a crer nesse Deus.

5. Que motivo poderia ter-vos levado ao suicídio?

R. O tédio de uma vida sem esperança.

6. Quisestes escapar às vicissitudes da vida... Adiantastes alguma coisa? Sois agora mais feliz?

— R. Por que não existe o nada?

7. Tende a bondade de nos descrever do melhor modo possível a vossa atual situação.

— R. Sofro pelo constrangimento em que estou de crer em tudo quanto negava. Meu Espírito está como num braseiro, horrivelmente atormentado.

8. Donde provinham as vossas idéias materialistas de outrora?

— R. Em anterior encarnação eu fora mau e por isso condenei-me na seguinte aos tormentos da incerteza, e assim foi que me suicidei.

9. Quando vos afogastes, que idéias tínheis das conseqüências? Que reflexões fizestes nesse momento?

— R.Nenhuma, pois tudo era o nada para mim. Depois é que vi que, tendo cumprido toda a sentença, teria de sofrer mais ainda.

10. Estais bem convencido agora da existência de Deus, da alma e da vida futura?

— R. Ah! Tudo isso muito me atormenta!

11. Tornastes a ver vosso irmão?

— R. Oh! não.

12. E por que não?

— R. Para que confundir os nossos desesperos? Exila-se a gente na desgraça e na ventura se reúne, eis o que é.

13. Incomodar-vos-ia a presença de vosso irmão, que poderíamos atrair aí para junto de vós?

— R. Não o façais, que o não mereço.

14. Por que vos opondes?

— R. Porque ele também não é feliz.

15. Receais a sua presença, e no entanto ela só poderia ser benéfica para vós.

— R. Não; mais tarde...

16. Tendes algum recado para os vossos parentes?

— R. Que orem por mim.

17. Parece que na roda das vossas relações há quem partilhe das vossas opiniões. Quereis que lhes digamos algo a respeito?

— R. Oh! os desgraçados! Assim possam eles crer em outra existência, eis quanto lhes posso desejar. Se eles pudessem avaliar a minha triste posição, muito refletiriam
O céu e o inferno, ou a justiça divina segundo o espiritismo.